Os mercados frequentemente "disparam primeiro e fazem perguntas depois". A escalada do conflito armado na Europa Oriental levou investidores a comprar o euro contra o dólar americano. Contudo, os impactos desse cenário são mais severos para a economia da Zona do Euro do que para a dos Estados Unidos. A revisão bienal do Banco Central Europeu (BCE) aponta para uma desaceleração do PIB europeu devido ao aumento dos riscos geopolíticos — e isso nem é o ponto mais alarmante do relatório.
Neste verão, o Federal Reserve mudou seu foco: deixou de priorizar o combate à inflação elevada para concentrar-se no suporte ao mercado de trabalho e na tentativa de garantir um "pouso suave" da economia americana. Essa mudança estratégica enfraqueceu o dólar. Agora, ao final do outono, o BCE parece seguir o mesmo caminho. Segundo análises, os riscos de uma desaceleração econômica na Zona do Euro já superam os riscos de alta na inflação.
As tensões geopolíticas e as guerras comerciais representam outra ameaça ao PIB do bloco. Como exportador líquido para os Estados Unidos, a Zona do Euro é especialmente vulnerável às tarifas impostas por Donald Trump sobre importações. Além disso, sua dependência do comércio exterior a torna particularmente sensível às interrupções no comércio global e à desaceleração da economia mundial. Não surpreende que o euro já estivesse em queda acentuada antes mesmo da intensificação do conflito na Europa Oriental.
Os riscos geopolíticos tendem a gerar efeitos de curto prazo, como observado no mercado de petróleo. Nesse contexto, a queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e o consequente rali do EUR/USD podem ser apenas temporários. Operar em um mercado tão volátil apresenta riscos consideráveis.
Do ponto de vista fundamental, o argumento para vender o euro contra o dólar americano permanece sólido. Fabio Panetta, presidente do Banco da Itália, afirma que a demanda na Zona do Euro está estagnada e que a inflação já alcançou a meta estipulada. Neste cenário, manter taxas de juros elevadas parece imprudente. A orientação ideal seria movê-las para uma zona neutra — ou possivelmente acomodatícia — o mais rapidamente possível. Caso os próximos dados sobre a atividade empresarial na Europa confirmem uma desaceleração adicional, aumentará a probabilidade de um corte de 50 pontos-base na taxa de depósito do BCE em dezembro, colocando ainda mais pressão sobre o euro.
Enquanto isso, o mercado mantém ceticismo quanto à possibilidade de o Fed flexibilizar sua política monetária até o final do ano. A taxa de juros dos fundos federais permaneceu acima de 5% durante grande parte dos últimos dois anos. Apesar disso, a economia dos EUA segue robusta: o desemprego está em 4,1% — um nível historicamente baixo — e o PIB do terceiro trimestre apresentou crescimento de 2,8%. Em um cenário como esse, o risco de ressurgimento da inflação persiste. Por que arriscar?
No gráfico diário, a batalha pelo nível-chave de 1,0545 continua acirrada. Os compradores conseguiram elevar o par para a região de 1,0600, mas os vendedores rapidamente retomaram o controle. Uma queda do euro abaixo de 1,0525 aumentaria a probabilidade de uma retomada da tendência de baixa, criando uma oportunidade para ampliar posições de venda de médio prazo, com um alvo em 1,0350.
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