Os preços do ouro caíram de um novo recorde histórico em meio ao fortalecimento do dólar americano, após o anúncio do Federal Reserve de um corte antecipado nas taxas de juros, após meses de intensa pressão da Casa Branca para reduzir os custos dos empréstimos.
Essa decisão, tomada apesar das persistentes preocupações com a inflação, desencadeou uma onda de vendas em ouro, tradicionalmente visto como ativo de refúgio em períodos de incerteza econômica e de enfraquecimento da moeda. Embora o corte de juros já fosse amplamente esperado, alguns analistas o interpretaram como um sinal da vulnerabilidade do Fed à pressão política. Investidores temem que novas concessões desse tipo possam levar a uma inflação descontrolada e minar a confiança na economia dos EUA. Essa apreensão se refletiu na recuperação do dólar, à medida que traders redirecionaram o foco para ativos mais conservadores.
Ainda assim, a queda nos preços do ouro pode se mostrar temporária. Fatores como instabilidade geopolítica, preocupações com o endividamento em diversos países e o risco de recessão continuam a sustentar a demanda pelo metal precioso.
Na entrevista coletiva após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou sinais crescentes de fragilidade no mercado de trabalho e reconheceu a necessidade de administrar o risco representado pela inflação persistente. Seus comentários foram menos dovish do que o discurso do mês passado no Simpósio de Jackson Hole, que havia reforçado as expectativas de novos cortes de juros.
"A demanda por trabalho diminuiu, e o ritmo recente de criação de empregos parece estar abaixo do nível de equilíbrio necessário para manter a estabilidade do desemprego", afirmou Powell. Ele acrescentou: "Já não posso mais dizer que o mercado de trabalho está 'muito estável'."
Após suas declarações, o dólar se fortaleceu, levando o ouro a cair 1,2% antes de uma recuperação parcial. Para efeito de comparação, o metal chegou a registrar brevemente um novo recorde de US$ 3.707,57 por onça logo após a decisão do Fed de reduzir as taxas, já que um ambiente de juros mais baixos tende a beneficiar ativos de refúgio como o ouro.
Claramente, o ouro está em processo de reversão à medida que o sentimento muda em diversas classes de ativos, incluindo ações e títulos, com investidores realizando lucros após o aguardado corte de juros do Fed. No acumulado do ano, o metal já valorizou quase 40%, superando o índice S&P 500 e outros ativos de referência. No início deste mês, chegou inclusive a ultrapassar o pico de 1980 ajustado pela inflação. Fatores como incertezas comerciais e geopolíticas, compras contínuas por bancos centrais e forte fluxo para ETFs seguem sustentando o momentum altista.
Do ponto de vista técnico, os compradores precisam romper a resistência imediata em US$ 3.658, o que abriria espaço para um novo teste em US$ 3.705, um nível que tende a oferecer forte barreira. O próximo grande alvo se encontra em US$ 3.813. Por outro lado, em caso de recuo, os vendedores devem tentar assumir o controle em torno de US$ 3.600. A quebra dessa zona representaria um revés significativo para os compradores, podendo empurrar o ouro para US$ 3.562, com risco de extensão até US$ 3.526.
LINKS RÁPIDOS